A cadeia do mel repercute a eficiência das abelhas como agentes de polinização. Elas têm a capacidade de aumentar a produtividade de grãos e ainda convivem em harmonia com a agricultura. No Brasil, as atividades de meliponicultura e apicultura geram muitos empregos. Enquanto a primeira trata de criação de abelhas que são nativas do Brasil e que não têm ferrão, a segunda compreende a criação da Apis Mellifera — que foi introduzida no país a partir das variáveis africanas e europeias e é mais conhecida como abelha africanizada.
Mesmo com o grande potencial do mel, a cadeia perde força diante de desafios como: acesso a mercados, baixa produtividade das melíponas em comparação às abelhas com ferrão, pouco incentivo à produção de abelhas sem ferrão e conhecimento insuficiente da meliponicultura.
Para colaborar com a mudança nesse cenário, o humanize se une a parceiros para contribuir, principalmente, com o recorte da meliponicultura. O que fazemos passa por assistência técnica para pequenos produtores (nos estágios de produção, beneficiamento e comercialização); capacitação e formação; apoio na criação de linhas de crédito e articulação de cooperativas e associações a fim de dar escala à produção – possibilitando preços mais justos. Também buscamos fortalecer boas práticas na produção, de forma que o trabalho esteja associado tanto ao desenvolvimento socioeconômico das famílias, quanto ao estímulo da conservação da biodiversidade.
Ainda fomentamos o empreendedorismo, o desenvolvimento de planos de negócios e as unidades de beneficiamento de mel, além de estudos que auxiliam a disseminação de conhecimento sobre a cadeia.
Expandindo a sua atuação na cadeia, o humanize apoiou projetos e pesquisas sobre o mel ao longo do ciclo 2019-2021. Nesse período, estudos mostraram oportunidades e lacunas, enquanto a aposta na meliponicultura nos aproximou de parceiros que atuam nesta cadeia e colaborou com a geração de renda para famílias envolvidas em projetos que tratam do tema.
Essa maior movimentação na área contribuiu, por exemplo, com a instalação de mais de uma centena de caixas responsáveis por possibilitar a criação de abelhas sem ferrão, o que resultou em um aumento de 15% de caixas instaladas. No mesmo período, mais de 50 novos apicultores foram envolvidos com a atividade, enquanto um grupo, com outros 50 apicultores, foi capacitado e recebeu assistência técnica. Outro resultados em destaque foram: cerca de 200 pequenos produtores e/ou extrativistas beneficiados por capacitação em boas práticas e/ou assistência técnica para aumento de qualidade e produtividade; 15% de aumento de kg de mel produzido; um mecanismo de disseminação do conhecimento sobre a cadeia endereçado; e três iniciativas de inclusão do mel em outras cadeias.
A partir da maior afinidade com o mel, o fragmento do portfólio do humanize que mais dialoga com a cadeia se revela predominantemente nos programas Uso Sustentável e Empreendedorismo e Negócios de Impacto Socioambiental. Já quando se trata da localização das iniciativas, elas se estruturam principalmente na Bahia e em Minas Gerais.
Falando diretamente sobre algumas das iniciativas inspiradoras do nosso portfólio, podemos citar o “Uruçu na Cabruca”. O projeto é realizado pela Tâboa, uma organização que fomenta iniciativas de base comunitária e empreendimentos socioeconômicos no sul da Bahia. A iniciativa busca fortalecer vocações econômicas e conservar a biodiversidade local, por meio da criação de um polo de abelhas sem ferrão no sul da Bahia.
A ideia ganha força porque a meliponicultura pode ser agregada a outros cultivos já existentes nas propriedades. No caso do projeto, a proposta é gerar alternativas de renda complementar para agricultores familiares, especialmente produtores de cacau e SAFs (Sistemas Agroflorestais) e jovens e mulheres da região – que muitas vezes não têm oportunidades. Ainda há o fortalecimento de práticas mais sustentáveis para a preservação do bioma Mata Atlântica e da espécie de abelha chamada Uruçu Amarela.
Roberto Vilela, diretor executivo da Tabôa, defende que o projeto acerta ao investir na disseminação da meliponicultura associada à agricultura familiar. “(Isso é feito) como uma prática capaz de gerar diversos benefícios sociais, econômicos e ambientais por meio da produção de mel com grande valor de mercado”, afirma, completando que a iniciativa também beneficia o território.
Roberto Vilela, Diretor Executivo da Tabôa Fortalecimento ComunitárioO projeto gera renda complementar para as famílias de agricultores e contribui para proteger e restaurar ecossistemas locais, com a manutenção da própria espécie e também de plantas nativas que dependem de sua polinização para existir.
Em abril de 2021, os números divulgados pela Tabôa reforçaram o quanto o “Uruçu na Cabruca” é importante para as famílias dos agricultores envolvidos no projeto, bem como para a restauração de ecossistemas locais. Os tais números mostraram que 69 famílias estão passando por processo de capacitação a partir de três turmas diferentes.
Já em uma conexão com o Certificado de Recebíveis do Agronegócio (CRA), outra iniciativa da Tabôa apoiada pelo humanize, 29 famílias que atuam com meliponicultura receberam crédito e adquiriram 168 colmeias – que serão instaladas em caixas de madeira com arquitetura adequada para manejo, multiplicação, produção e colheita.
O projeto ainda desenvolve um estudo para entender a potencialidade do mercado para produtos derivados da meliponicultura e direciona esforços para a formação focada em técnicas de manejo de caixas de enxames da espécie Melipona Mondury, também conhecida como Uruçu Amarela. O próximo passo é tratar de extração e comercialização do mel.