Instituto humanize

A educação é o motor de transformação do mundo

João Alegria

Secretário Geral da Fundação Roberto Marinho
Rio de Janeiro, RJ

Projetos relacionados: Telecurso Maré, Florestabilidade e Tecendo o Saber – Alfabetização e Família em Cavalcante/GO

No Brasil, o acesso à educação básica de qualidade ainda não é, infelizmente, uma realidade para toda a sociedade.
Segundo o ‘UNICEF’, cerca de dois milhões de crianças e adolescentes brasileiros (as) não frequentam a escola
atualmente. E as razões são muitas e complexas, entre elas estão questões como a necessidade de trabalhar enquanto
estuda e a dificuldade de aprendizado, além de elementos envolvendo a mobilidade urbana, a gravidez na adolescência e o racismo. As consequências de uma pandemia, provocada pela Covid-19, se somam como obstáculos para essa conjuntura. Em 2020, por exemplo, mais de cinco milhões de jovens, sobretudo alunos (as) da rede pública, ficaram sem estudar e a falta de acesso à internet e os instrumentos necessários para aulas em casa foi uma das principais causas para este número.

Esse cenário não é apenas atual; acompanha o histórico do país e reflete em uma grande quantidade de jovens e adultos sem o ensino médio completo. Esse cenário também mostra que o perfil dessas pessoas é resultado de outros problemas estruturantes, o que passa por desigualdade social, racismo e diferentes oportunidades entre regiões do país. O Nordeste, por exemplo, é a região brasileira com o menor número de adultos com o ensino médio completo. Ao mesmo tempo que revelou essa informação, a ‘Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua’, divulgada pelo ‘IBGE’, afirmou que pessoas pretas e pardas são aquelas com menos certificados de conclusão. No esforço de colaborar para a mudança desse panorama, João Alegria, atual Secretário Geral da ‘Fundação Roberto Marinho (FRM)’, tem a educação como a principal base da sua trajetória. Historiador, João foi professor acadêmico por cerca de dez anos na área de Design e Mídias digitais. Na ‘FRM’, instituição que acredita na educação de qualidade como instrumento capaz de diminuir a desigualdade social, foi Gerente geral do ‘Canal Futura’, uma das principais plataformas educativas na TV e demais meios de comunicação no Brasil.

“Acredito na capacidade das pessoas e em superar desafios. No trabalho coletivo. Na diversidade em todos as dimensões da experiência humana. Na força criadora e no protagonismo das juventudes. A Educação é o motor de transformação do mundo”, responde João, quando é questionado a respeito de seu propósito.

Nova oportunidade para seguir em frente

Em parceria com o Instituto humanize, João Alegria supervisiona projetos que lidam diretamente com as
delicadezas que envolvem a educação de jovens e adultos (EJA) no país. Na periferia do Rio de Janeiro, no Complexo da Maré, por exemplo, o ‘Telecurso’ implementa salas de aulas com metodologias que carregam a missão de atrair e tornar permanente a presença de alunos (as) em meio a uma alta exposição de violência urbana e desigualdade social. Entre 2018 e 2019, o projeto alcançou 343 pessoas.

Em paralelo, no município de Cavalcante (GO), o projeto ‘Tecendo o Saber’ capacita educadores (as) a fim de proporcionar a oportunidade de ensino para a comunidade quilombola ‘Kalunga’. É uma ação que tenta romper a barreira da exclusão geográfica, étnica e racial. “Desenvolver tecnologia, estratégia e consolidar modelos de oferta educacional para essas populações é extremamente relevante e é o que caracteriza esses dois projetos”, afirma João.

Além de os dois projetos já se inserirem em contextos sociais delicados, a pandemia trouxe ainda mais complexidade para a implementação das iniciativas. No auge da pandemia, foi necessário suspender aulas presenciais, além do treinamento de professores (as) e das iniciativas que estavam previstas para garantir o acesso à tecnologia para o ensino à distância.

Por outro lado, as estruturas bem definidas dos projetos da ‘FRM’ permitiram adaptações ao longo do percurso. Por
exemplo, em 2021, no município de Cavalcante (GO), 14 professoras foram formadas como alfabetizadoras por meio
de uma iniciativa realizada em parceria com a ‘Secretaria de Educação de Goiás (SEDUC-GO)’ e a ‘Escola Janela’.
O projeto, previsto inicialmente para acontecer de forma presencial, foi reorganizado para formato online em um
território onde geradores de energia possuem limitações para funcionar à noite e a internet normal é de baixo alcance. Nesse contexto, na Maré, em 2020, a ‘FRM’ e a ‘Redes da Maré’ realizaram uma pesquisa de como a pandemia afetou a vida de jovens com o ensino fundamental incompleto. Entre os resultados, 57,8% sinalizaram que a sua família foi afetada financeiramente e 51,1% informaram que a sua conexão de internet era instável.

Apesar das dificuldades, o período mostrou que a adaptação foi um ponto-chave para que diversos projetos da ‘FRM’
fossem retomados depois do auge da pandemia, o que também permitiu manter viva a expectativa de essas
iniciativas geraram ainda mais impacto positivo no futuro das pessoas que são envolvidas nos projetos.

Em consonância com essa ideia, um estudante impactado pelo ‘Telecurso’ revelou, em 2020, que enxergava na experiência uma oportunidade de transformar, para melhor, a sua história.

“Eu gostei muito de conseguir essa oportunidade. Até porque, tinham coisas que eu não sabia porque eu tinha parado de estudar muito cedo. Nesse caso, fazer o projeto foi como ganhar na loteria. Agora, estou em busca de novo cargo profissional.”

O depoimento acima resume o que está por trás da visão principal da Fundação Roberto Marinho:

 

A FRM valoriza a transformação que acontece na vida das pessoas que estão afastadas da experiência escolar por anos e que, finalmente, têm a oportunidade de voltar a estudar e de se reencontrar com a emoção e com o desejo de ir além. [É bonito] ver essas pessoas se reencontrando com possibilidade de sonhar e de desenvolver um projeto de vida