Instituto humanize

Amazônia: o talento local como guia para ação coletiva

Augusto Corrêa

Secretário executivo da PPA
São Paulo, SP

Projeto relacionado: Plataforma Parceiros pela Amazônia (PPA)

Augusto nasceu e viveu em Belo Horizonte até os 14 anos, idade em que se mudou para Goiânia. Em 2008, foi para São Paulo após ingressar no curso de Arquitetura e Urbanismo da ‘Universidade de São Paulo’, mesma instituição em que concluiu, anos depois, o MBA Executivo em ‘Inovação Digital e Sustentabilidade’.

Desde abril de 2020, ele é Secretário Executivo da ‘Plataforma Parceiros pela Amazônia (PPA)’, uma iniciativa
de ação coletiva que busca engajar o setor privado para fomentar novos modelos de desenvolvimento sustentável
na Amazônia, gerando oportunidades para os milhões de habitantes da região.

Se enxergar como parte da história

Relacionando trabalho e vida pessoal, Augusto revela que a ‘PPA’ coincide com seus interesses. “Sou montanhista e estar na natureza me faz bem – possibilidade que a ‘PPA’ oferece”, afirma, acrescentando que o trabalho o presenteou com a oportunidade de entender melhor a dinâmica indígena. “Tive a chance de conhecer algumas tribos, mas a que mais chamou a minha intenção foi a ‘Cinta Larga’, que fica em Rondônia. Ela está ao redor do rio Roosevelt [anteriormente conhecido como rio da Dúvida]”, comenta.

O rio atravessa parte do Mato Grosso e entra no Amazonas, onde se torna um afluente do rio Aripuanã. No entanto, anos atrás, era chamado de Dúvida porque existia o questionamento sobre ser ou não afluente do rio Amazonas.
A alteração do nome tem a ver com Theodore Roosevelt, que foi presidente dos Estados Unidos de 1901 a 1909 e que esteve na Amazônia em 1910. Ao lado de Marechal Rondon, ele fez uma expedição focada em capturar animais e pássaros para o acervo do Museu de História Natural de Nova York. Ao fim da expedição, o rio foi rebatizado de Roosevelt.

Para Augusto, o episódio reverbera de diferentes formas. “A tribo fala sobre o rio a partir da chegada de Roosevelt, ou seja, parte da história se perdeu por influência externa e por questões como mineração e extração ilegal de madeira”, afirma, completando que o passado provoca reflexões sobre o presente. “O cenário me deixa pessimista sobre a longevidade desses povos, mas ter a possibilidade de entender e vivenciar melhor esse universo é algo rico que a ‘PPA’ me proporcionou”, reflete.

Olhando para o passado, Augusto comenta que na universidade não se imaginava trabalhando com o que
faz hoje. Isso mudou quando ele foi voluntário em uma organização responsável por construir casas em favelas.
“Percebi que ali me sentia mais completo. Não construindo casas, mas fazendo algo com um sentido maior para a
sociedade”, confidencia, completando que, por meio da ‘PPA’, há a chance de fazer isso com escala e potencial
maiores. “Significa multiplicar o que fez sentido para mim há 15 anos”, celebra.

Concretude

A possibilidade de fazer mais pela Amazônia e pelas pessoas que lá vivem coincide com o que a ‘PPA’ realiza desde
o seu lançamento, em 2017, mas Augusto explica que a plataforma só começou a se entender como organização
em 2020. “Antes era um movimento atrelado a ‘USAID’ e ao ‘IDESAM. Foi a partir de uma costura entre os dois – e de nomes como humanize, ‘Fundo Vale’ e ‘Instituto Sabin’ – que a ‘PPA’ ganhou mais autonomia e aprofundou a estratégia de trabalhar com negócios de impacto”, afirma, completando que essa virada trouxe mais concretude. “Com o lançamento do primeiro programa, um programa de aceleração [que, depois, se tornou a ‘AM’ – uma das maiores aceleradoras de negócios de impacto do norte do país, a qual será aprofundada em outra história deste livro] conseguimos transformar ideias em algo concreto, e mostrar que é possível ter negócios de impacto e startups na Amazônia”.

A estratégia de trabalhar com negócios de impacto foi aprofundada em documentos lançados pela ‘PPA’. “Em
2021, divulgamos a ‘Tese de Aceleração’. Depois, lançamos o material ‘Caminhos para a Amazônia’, em que mapeamos iniciativas que fortalecem negócios de impacto no território. Isso trouxe uma visão mais sistêmica e enfatizou a ideia de fortalecer o ecossistema como um todo”, conta.

Diferentes lados em uma só direção

Nessa direção, a ‘PPA’ vem crescendo. A plataforma tem, dentro de suas parcerias, cerca de 120 negócios diferentes.
Com um portfólio tão vasto, foi possível aprender, reunir e lançar conhecimento a respeito de negócios de impacto na Amazônia. A partir de cada relação e parceria, a ‘PPA’ foi aprendendo mais sobre beneficiar os negócios, desde os de base até os mais avançados – o que vem deixando um legado.

A trajetória mostra a necessidade de se engajar com o setor privado a fim de fomentar novos modelos de desenvolvimento sustentável, mas Augusto pontua que a questão precisa ser interpretada com lentes apuradas. “No contexto amazônico, há redes formadas pelo setor privado, mas nem sempre há um objetivo claro sobre o trabalho a ser realizado. É importante reunir e escutar diferentes atores para chegar nas melhores condições para agir”, afirma, acrescentando que o trabalho da ‘PPA’ mostra o benefício de incluir todos os lados nas discussões e de esclarecer objetivos. “Faz a diferença informar a finalidade de cada conversa e mostrar que ela é material; que será monitorada e terá um fruto que todos vão ver”.

Sobre aprendizados e desafios, Augusto aponta que engajar o setor privado não é suficiente. “É preciso algum
tipo de advocacy [um conjunto de ações que influencia na formulação, aprovação e execução de políticas públicas
junto aos diferentes poderes], pois, por mais que a relação com terceiro setor e setor privado proporcione inovação, é a implementação por meio do setor público que alcança escala maior. O problema é que, muitas vezes, não há conexão entre público e privado, o que reforça a necessidade de uma articulação mais bem trabalhada”, opina.

Augusto ainda defende a necessidade de engajar o setor privado local.

 

Só é possível transformar a vida de empreendedores se mobilizarmos a comunidade empreendedora e o setor privado local. Organizações e diferentes atores que saem de outras regiões já têm um pensamento formado, enquanto amazônidas têm um conhecimento profundo sobre a relevância e as várias riquezas da floresta