Instituto humanize

Conservação de nossas raízes

Yuri Salmona

Diretor Executivo do Instituto Cerrados (IC)
Brasília, DF

Projeto relacionado: Acelera Cerrado

A relação com o lugar onde nascemos, crescemos e vivemos é muito subjetiva. Cada pessoa possui uma história,
uma conexão e atribui os efeitos dessa vivência na sua personalidade, identidade e na vida em geral. Yuri Salmona,
diretor do ‘Instituto Cerrados (IC)’, enxerga o seu despertar profissional diretamente ligado ao Cerrado e a relação
afetiva que tem com o bioma desde criança.

Nascido em Brasília (DF), um dos centros geográficos do bioma, Yuri sempre aproveitou os espaços naturais como
forma de lazer em família e de descobertas da infância. “Nas férias, finais de semana, nas oportunidades de lazer que eu tinha, além de jogar bola, eu ia com meus pais para algum ambiente natural. Lugares como Chapada dos Veadeiros, Serra dos Pireneus e as regiões do entorno de Brasília fizeram parte desses momentos. Então eu já tinha contato com o Cerrado e isso começou a fazer parte de mim. Eu gostava de estar ali e eu comecei a me sentir confortável naquele ambiente”, relata o geógrafo.

Diante dessa afinidade, a trajetória acadêmica de Yuri seguiu de forma natural em direção ao estudo de soluções
para um Cerrado protegido e valorizado. Formado pela ‘Universidade de Brasília (UnB)’, estudou modelagem de
cenários futuros para o bioma no mestrado e hoje pesquisa, no doutorado, métricas para mapeamento.

O Cerrado em pé é uma riqueza em si. Uma grande biblioteca e um conhecimento gigantesco que não começamos a ler. Há um déficit de pesquisa no Brasil

Com o intuito de apoiar o desenvolvimento de organizações da sociedade civil (OSCs) enquanto atores que conhecem, vivem e sentem o bioma, o ‘Impact Hub Brasília’ conduziu o ‘Acelera Cerrado’ ao longo de 2021. O projeto foi apoiado pela ‘Aliança Nosso Cerrado’, à época formada por ‘Fundação Grupo Boticário’, ‘Instituto Nova Era’, Instituto humanize e ‘IEB-CEPF’.

Desenvolver para agir com estratégia e urgência

Por conta da proporção territorial, o Cerrado é considerado o bioma mais ameaçado pelo desmatamento. De acordo com Yuri, “no Cerrado, a área desmatada é do tamanho do Chile, mas existem áreas gigantescas de pastagens que poderiam ser melhor utilizadas. Desmatar mais significa intensificar a emergência climática.”

Nesse cenário alarmante, o olhar cuidadoso, para alavancar o impacto de instituições locais que lidam diretamente com os desafios do bioma, é uma das ações ligadas à busca por soluções práticas para conservação. “Formações como
o ‘Acelera Cerrado’ são imprescindíveis, pois aprimoram as capacidades das instituições em realizar suas missões”,
destaca Yuri.

O ‘Acelera Cerrado’ trabalhou para contribuir na melhoria das capacidades técnicas e de gestão das OSCs que
atuam no bioma, buscando apoiá-las para a proposição, execução e gerenciamento de projetos focados na
conservação e uso sustentável. Durante a primeira edição do programa, 37 organizações, pertencentes a seis estados
do Cerrado mais o Distrito Federal, foram atendidas. Além disso, oito lideranças de comunidades tradicionais e 30
lideranças femininas foram beneficiadas.

Um bioma é formado por gente e suas histórias

Dificilmente encontramos no terceiro setor uma organização sem uma missão definida ou uma causa com a qual
quer se envolver. Todavia, colocar em prática aquilo que traçou no início da sua formação pode ser um desafio
e tanto. Como dito por Yuri, iniciativas como o ‘Acelera Cerrado’ ajudam justamente nesse nesse ponto, ou seja, de identificar os principais problemas institucionais e monitorá-los, de forma colaborativa, para atingir o que era almejado desde o começo.

No caso do ‘Instituto Cerrados’ e de seu diretor, a missão profissional e a pessoal caminham lado a lado: “o ‘IC’
carrega a visão de valorizar aqueles que vivem no Cerrado como a forma mais eficiente de proteger o bioma”, define
o geógrafo. E esse olhar humanizado, antes de qualquer análise científica e acadêmica, a exemplo de Yuri, é
construído a partir de uma identificação.

 

A minha ideia de conservar Cerrado é de conservar identidade, conservar aquilo que forma a mim, os meus colegas, os meus vizinhos e os milhões de habitantes do Cerrado. Desmatá-lo é tirar um pedaço da minha história, da minha família e de quem a gente não conhece. Por isso enfrento uma corrida
pela manutenção das minhas raízes