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Empreendedorismo sustentável na Amazônia

Raphael Medeiros

Diretor executivo do Centro de Empreendedorismo da Amazônia
Belém, PA

Projeto relacionado: Centro de Empreendedorismo da Amazônia

Raphael Medeiros nasceu e cresceu na Amazônia, e passou a infância entre sua cidade natal, Belém do Pará, e “os
interiores”, onde ele passava as férias escolares. O belenense viveu pouco mais de 20 anos na região e concluiu duas
universidades, até que resolveu se mudar para o Rio de Janeiro. “Na época, me vi cheio de vontade de dar certo, mas
com poucas oportunidades”, conta, completando que encarar a mudança parecia a solução. “No Rio, conclui MBA (Master of Business Administration) na PUC e fui contratado por uma grande empresa. Comecei a minha trajetória de forma ambiciosa, mas sem abandonar meus princípios”, reflete.

A mudança foi porta de entrada para grandes empresas e multinacionais e, nos vinte anos seguintes, Raphael assumiu cargos de liderança em instituições do eixo Rio-São Paulo. “Conduzi equipes de grande porte e fiz negócios em quase todos os continentes”, ele lembra, acrescentando que chegou no lugar em que acreditava que gostaria de alcançar. “Foi quando me veio a pergunta: ‘qual legado eu deixarei para as gerações futuras?’ – que foi seguida por uma reflexão incômoda”, confidencia, explicando que a clareza de que aquele percurso não o completava fez surgir o desejo de procurar um caminho que fizesse mais sentido.

Raphael voltou a enxergar a sua vida em Belém (PA) e, ao retornar para a cidade, encontrou no ‘Centro de Empreendedorismo da Amazônia’ a oportunidade que esperava. “Buscava algo que pudesse me orgulhar diante
dos meus filhos”, lembra, complementando que, na mesma época, conheceu Beto Veríssimo, pesquisador e fundador do ‘Imazon’, que o apresentou a um novo conceito de trabalho. “Ele explicou que a instituição seria capaz de fazer jovens olharem para a Amazônia como uma terra de oportunidades”, relembrou, acrescentando que acreditou tanto na proposta que se tornou parte do Centro ainda em 2015, ano em que a iniciativa foi fundada. Hoje, Beto Veríssimo é diretor de programas, enquanto Raphael é diretor executivo.

Anos depois, Raphael não se arrepende da escolha. “O Centro me ofereceu a possibilidade de ficar na minha
região e provou que a Amazônia é, de fato, uma terra de oportunidades”, comemora, adicionando que sempre se
sentiu inspirado com o foco da iniciativa ser os jovens.

Há um olhar de formar uma nova geração capaz não só de gerar riqueza na região e para a região, mas também de ter sucesso em harmonia com o bioma

Abrindo caminho para jovens da região, o Centro atua na promoção e articulação de negócios sustentáveis com
foco na floresta, biodiversidade, serviços ambientais e uso sustentável do solo. Além de se destacar como instituição
amazônica com forte conexão e conhecimento da realidade social, econômica, ambiental e cultural da região.

Pré-aceleração de modelos de negócios sustentáveis

E é com essa visão, de Amazônia desenvolvida e progredindo socialmente a partir de negócios sustentáveis, que o Centro recebeu tanto apoio institucional quanto para implementação de um programa lançado em 2017 e intitulado ‘Amazônia UP’. “Foi o primeiro programa de pré-aceleração com foco exclusivo em ideias de negócio ligadas à biodiversidade da Amazônia. Há edições anuais a fim de ajudar empreendedores a desenvolver produtos e serviços capazes de solucionar problemas ligados a bioeconomia de forma sustentável e com impacto socioambiental positivo”, afirma.

Raphael conta que os últimos anos foram desafiadores e exigiram ajustes, o que não impediu que a iniciativa atingisse bons resultados. “Mesmo durante a pandemia de Covid-19 nós conseguimos executar o programa de forma virtual e ter êxito, tanto na captação de novas ideias quanto na demonstração de resultados”, revela, acrescentando que o principal desafio do ‘Amazônia UP’ está em aumentar o número de participantes vindos do interior. “Isso requer recursos para divulgação e execução”, diz. Apesar da dificuldade em chegar no interior, Raphael conta que um
número expressivo de iniciativas – de ideias de negócio ou de negócios em busca de remodelagem – passaram pelo
‘Amazônia UP’. “É o programa de pré aceleração de negócios sustentáveis mais relevante da Amazônia”, opina.

Entre 2019 e 2021, o programa apoiou 48 iniciativas de 22 municípios, alcançando oito Estados brasileiros. 88% das
iniciativas estavam localizadas na Amazônia, enquanto 12% estavam fora, mas apresentavam forte conexão com o bioma. As iniciativas apoiadas construíram memórias que reforçaram o orgulho que Raphael tem de acompanhar o
desenvolvimento de uma nova geração de empreendedores com foco em negócios sustentáveis.

Uma das memórias se reflete na jornada do empreendedor Charles Ramon, da ‘BioForte’. Raphael conta que Charles
e a equipe estudavam agronomia em Capitão Poço, no Pará, e trabalhavam para produzir biofertilizantes naturais
por meio de um produto que oferecia excelentes resultados no crescimento das plantas. Ao ser selecionado para o
‘Amazônia UP’, o time conseguiu trabalhar na validação do modelo de negócio e ainda testar o protótipo em laboratório. Isso fez com que o protótipo virasse um negócio sustentável e ampliou a ideia. “Ao longo da jornada, que envolveu a construção da marca e dos produtos ‘BioForte’, a dificuldade de realizar estudos de solo fez com que surgisse uma nova iniciativa: a PróSolos, que se tornou o primeiro laboratório privado da região focado em análise de solos”, celebra.

A história da ‘BioForte’ é um dos exemplos que mostram a importância da colaboração em torno do programa.
“O trabalho em rede aumenta os resultados em diversas frentes. Por isso, a cada edição do ‘Amazônia UP’ valorizamos ainda mais os parceiros”, afirma, complementando que a 5ª edição contou com 24 parceiros institucionais e que toda essa mobilização apontou para diversos aprendizados. “Aprendemos que não existe modelo pré-definido de ferramenta que seja capaz de ser aplicado na região de forma que não exija ajustes. É preciso considerar desafios locais e, por isso, a gente vem melhorando a cada nova edição as nossas ferramentas, metodologias e processos – o que nos ajuda a ter resultados mais efetivos”, conclui.