Agricultora familiar e Presidente da Associação de Mulheres Produtoras de Polpa de Frutas (AMPPF) São Félix do Xingu, PA
Com o avanço da pecuária na Área de Proteção Ambiental (APA) ‘Triunfo do Xingu’, entre 2018 e 2019, São Félix do Xingu foi o segundo município brasileiro com maior taxa de desmatamento, o equivalente a 544km2 de floresta amazônica, e em 2021 foi considerado o município que mais emitiu CO2 no Brasil. Diante de um cenário tão complexo, qualquer iniciativa pode parecer aquém de uma solução realmente efetiva. Contudo, para Maria Josefa Neves, agricultora e responsável por uma rede de mulheres da floresta, pequenas práticas são componentes cruciais para grandes impactos.
Maria Josefa vive e trabalha na comunidade de Tancredo Neves, em São Félix, onde identificou o potencial de
reflorestamento e de maior geração de renda para as mulheres da região. As árvores frutíferas se tornaram o foco
da ‘Associação de Mulheres Produtoras de Polpa de Frutas (AMPPF)’, e a rede adotou um tipo de manejo de culturas
agrícolas aliado à conservação e recuperação de áreas degradadas, os chamados Sistemas Agroflorestais (SAFs).
‘AMPPF’ é uma das associações apoiadas pelo projeto ‘Florestas de Valor’, do ‘Imaflora’. A iniciativa fomenta
assistência técnica, capacitação, certificação, produção e comercialização do cacau orgânico e outros frutos, como
açaí e cupuaçu, e incentiva o empreendedorismo de jovens e mulheres. Com a ‘AMPPF’, o projeto apoiou o aprimoramento de técnicas de cultivo, produção e desenvolvimento institucional, com o intuito de alcançar novos mercados. Além das polpas de frutas oriundas de seus próprios quintais, as associadas aprenderam a produzir derivados como licores, geleias e chocolate. O que se iniciou como atividade para complemento de renda passou a ser a principal fonte em direção a independência financeira dessas mulheres.
Eu moro no meio de uma floresta
No projeto, o aprimoramento de técnicas sustentáveis de cultivo e produção destacou a urgência de desenvolver
atividades econômicas que não aprofundam ainda mais o desmatamento. Antes de aprender técnicas de reflorestamento, como a criação de um viveiro de mudas e replantio em áreas degradadas, o terreno de Maria Josefa
era outro: “a minha propriedade, quando eu comprei, era só pasto, mas transformamos ela numa floresta”.
Maria sabe que o trabalho realizado com o ‘Imaflora’ e ‘AMPPF’ é um salto que merece ser ainda maior, pois suas
casas, histórias e fontes de renda estão em jogo.
Se para cada problema estrutural é preciso uma solução coletiva, as práticas de Maria Josefa e sua rede são um belo
exemplo de iniciativa desenvolvida ‘por quem está dentro’, de maneira articulada e com o propósito de ir além: “São Félix do Xingu é muito grande, mas ainda somos minoria; queremos passar para as outras famílias, chegar na maioria, incentivar a que mais pessoas façam mais.”