Instituto humanize

Negócios de impacto e a nova economia da Amazônia

Mariano Cenamo

CEO da AMAZ & Cofundador e Diretor de Novos Negócios do Idesam
Florianópolis, SC

Projeto relacionado: Amaz Aceleradora de Impacto

Mariano é paulistano, mas se considera Amazonense de coração. A relação com o Amazonas começou depois que
ele se formou em Engenharia Florestal na ‘Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz’, em Piracicaba (SP), e se mudou para Manaus (AM). Hoje ele mora em Florianópolis (SC), mas mantém uma rotina mensal de ponte aérea que se divide entre três semanas no Sul do Brasil e uma semana no Norte.

Para ele, vida pessoal e profissional se misturam. “Meu perfil sempre foi de empreendedor e de liderança criativa. Nunca me contentei com o básico e sempre busquei soluções inovadoras”, confidencia, acrescentando que isso guia seus caminhos desde mais novo. “Saí de casa aos 17 anos e, quando terminei a faculdade, em 2004, me mudei para
Manaus e fundei o ‘IDESAM – Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia’ [ONG
socioambiental que tem o propósito de promover uma nova economia de base inclusiva e sustentável na Amazônia]”,
conta. À frente da organização, Mariano liderou a construção de políticas, projetos e programas nas áreas de mudanças climáticas, projetos de carbono e financiamento para a conservação florestal.

Com a atuação do ‘IDESAM’ ganhando vida a partir de uma estrutura mais tradicional, ele viu surgir entraves.
“Enfrentamos limitações para conseguir dar o próximo passo no desenvolvimento de negócios focados na conservação da Amazônia, e foi assim que surgiu a ideia de criar a ‘AMAZ’”, revela, completando que a aceleradora representa uma estrutura nova. Totalmente dedicada ao empreendedor que atua no bioma, a ‘AMAZ’ é uma das maiores aceleradoras e investidoras de negócios de impacto do país, e tem em seu portfólio 18 negócios. O nome ‘AMAZ’ é uma homenagem à Amazônia, além de fazer referência ao verbo amar. A iniciativa é uma evolução do programa de aceleração da ‘Plataforma Parceiros da Amazônia (PPA)’ – que já foi destaque em outra história deste livro.

Colocando a mão na massa

Olhando para a contribuição da ‘AMAZ’, ele explica que a aceleradora é diferente de muitas. “Colocamos a mão na
massa junto com o empreendedor”, afirma, complementando que a ‘AMAZ’ conta com um fundo de financiamento híbrido (blended finance), de R$ 25 milhões, que recebe investimento de institutos, fundações e investidores privados. Os negócios classificados passam pelas fases de: pré-aceleração – participam de um workshop e acompanhamento intensivo por um mês, com foco na construção da teoria de mudança, planos de negócio e construção de indicadores de impacto; aceleração – os que tiveram melhor desempenho na etapa anterior são acelerados e recebem aporte financeiro inicial; e jornada de capacitação – que tem duração aproximada
de seis meses e inclui ciclo de formações, mentorias com especialistas e conexão com ampla rede de empresas, fundos de investimento de impacto e organizações intermediárias.

Mariano defende que os negócios recebem um apoio cuidadoso em todas as fases. “O humanize é um dos fundadores e financiadores do fundo, e nós só aceleramos negócios em que investimos. Primeiro a ‘AMAZ’ identifica
um negócio para entrar no portfólio, depois investe para que ele tenha ‘combustível no tanque’ para seguir uma jornada intensiva de aceleração que dura seis meses e que é seguida por uma jornada contínua, a qual é acompanhada pela nossa equipe e inclui gestão e empenho focado no crescimento do negócio”, explica, acrescentando que os acelerados estão em um estágio inicial. “Por isso, a gente estrutura a tese de impacto, refaz a modelagem financeira e a modelagem do negócio, além de assessorar juridicamente e contabilmente.”

Autoconhecimento estimula negócios inovadores e com potencial de crescimento rápido Apesar do sucesso, a ‘AMAZ’ enfrenta desafios. Um deles está no fato de que atuar na Amazônia exige autenticidade. “O ecossistema de impacto no Brasil, muitas vezes, segue modelos aplicados em outros lugares e outros setores. Isso é complicado, pois os desafios na Amazônia são muito diversos. Nesse sentido, a estruturação da atuação da ‘AMAZ’ precisa oferecer tudo o que o negócio realmente necessita, dentro do seu contexto, e fazer com que isso reflita em um crescimento exponencial no impacto que ele gera”, conta, complementando que uma estruturação autêntica também passa por autoconhecimento.

 

Existe poucos empreendedores preparados para atrair capital financeiro, então há uma assimetria entre o que o negócio realmente precisa para crescer e o que o mercado de capital e os fundos querem aportar. Para mudar o cenário, é preciso trabalhar, por exemplo, com educação empreendedora, instrumentos de financiamento mais pacientes e capital filantrópico

 

Mariano complementa que, se isso não for feito, há o risco de que negócios atraiam um capital diferente do que
necessitam, o que faz com que não consigam devolver o capital investido e, assim, quebrem.

Contribuir para que negócios entendam como seguir em uma direção mais adequada corresponde com o trabalho da aceleradora e com a crença de Mariano. “Encontrar empreendedores e ver o brilho nos olhos de cada um é marcante, assim como perceber o quanto a gente pode contribuir para o desenvolvimento de um negócio. Claro que o capital é importante, mas faz muita diferença, para a jornada de desenvolvimento de um negócio, contar com uma rede de relacionamentos e com todo o conhecimento que a ‘AMAZ’ consegue compartilhar. Geralmente, apoiamos empreendedores jovens e, considerando a situação difícil que a Amazônia vive hoje, me enche de esperança ver cada uma dessas pessoas crescendo sem depender de uma política de governo ou de uma decisão/orientação política. É isso que me faz acordar e ir para o trabalho cheio de energia, pois sei que lá vou encontrar empreendedores que dependem do nosso apoio e que estão prontos para construir uma nova economia na Amazônia.”