Diretor e Cofundador da Manioca
Belém, PA
Projeto relacionado: Manioca via AMAZ
Natural de Belém, Paulo é formado em Direito e hoje se dedica a pesquisar e pensar a economia da Amazônia no
‘Núcleo de Altos Estudos Amazônicos’ da ‘Universidade Federal do Pará’. Na graduação, ele já sabia que não queria
seguir na área. “Me envolvi em vários projetos e a maior parte deles era ligada ao desenvolvimento socioeconômico da Amazônia. Costumo dizer que me formei metade em projetos da Amazônia e metade em Direito”, brinca, acrescentando que os projetos o aproximaram do que ele faz agora. “No final da faculdade eu trabalhava em um banco, mas logo entendi que precisava atuar em prol da Amazônia.”
Em 2016, Paulo deixou o setor bancário e se juntou a Joanna Martins, que, em 2014, havia fundado a ‘Manioca’, uma
indústria de impacto socioambiental. Mesmo só entrando como sócio dois anos depois, a relação entre os dois
começou no primeiro mês de operação da ‘Manioca’. Já como diretor e cofundador da empresa, Paulo potencializou
esforços focados em transformar ingredientes da floresta em alimentos naturais, práticos, saudáveis e inovadores.
A ‘Manioca’ dialoga com cultura local e biodiversidade, por meio de comércio justo e do desenvolvimento de cadeias
produtivas.
Apostas, desafios e aprendizados
Em oito anos, o negócio passou por erros e acertos ao buscar conectar propósito e mercado. “Inicialmente, abrimos muito o leque de produtos. Depois, percebemos que precisávamos de foco, então eliminamos ou adaptamos produtos que não estavam alinhados com o consumidor. Foi preciso entender a demanda pelo produto amazônico”, revela.
Além de apostar no e-commerce e investir em design e certificações para marca, Paulo enfatiza a escolha de
trabalhar com mais de 20 ingredientes, o que movimenta muitos produtores. “Por isso, em 2017, criamos o programa ‘Raízes’, o qual promove assistência técnica a pequenos produtores a partir dos pilares: gerar renda, ofertar treinamento profissional e proteger a área florestal onde estão alocados. O programa olha para cerca de 40 famílias”, explica, acrescentando que há preocupação em monitorar a renda gerada e em evitar atravessadores – o que é ainda mais possível quando se investe em assistência técnica, aumentando a chance de que fornecedores produza com mais qualidade e de maneira competitiva. Essa forma de atuar fortalece a economia da região, já que há um comprometimento em comprar matéria-prima de pequenos (as) agricultores (as) familiares, comunidades regionais, tradicionais e ribeirinhas. “Desde o início, há um olhar para o potencial de ingredientes da biodiversidade sem deixar de valorizar o potencial das pessoas”, afirma, complementando que o programa já passou por adaptações para evitar de forma mais enfática questões como o desmatamento. “Começamos a emitir o CAR [Cadastro Ambiental Rural] para monitorar melhor a área em que os fornecedores estão.”
Levando a Amazônia para a casa das pessoas
Paulo destaca que, para o crescimento da ‘Manioca’, foi essencial receber investimento de algumas instituições e
entrar no programa da ‘Plataforma Parceiros pela Amazônia (PPA)’, o que aconteceu em 2019 e garantiu uma boa
captação. Pouco depois, o programa de aceleração da ‘PPA’ se tornou a ‘AMAZ’, uma aceleradora e investidora
de negócios de impacto. “A ‘AMAZ’ nos garantiu muitos aprendizados, além de acesso a uma rede notável de
empreendedores e de parceiros. Mesmo hoje, depois do fim da nossa participação no programa de aceleração, a rede
nos beneficia e nos fortalece. A iniciativa foi responsável por nos apresentar investidores, como o humanize, que foram fundamentais”, afirma.
Investimentos recebidos e alinhados ao propósito da ‘Manioca’ possibilitam que sabores da Amazônia continuem
sendo valorizados, além de contribuírem para que a floresta se mantenha em pé. Mesmo assim, Paulo trabalha para
que a região tenha um protagonismo cada vez maior. “Uma das sensações mais marcantes é ver uma gôndola de um
supermercado de São Paulo, por exemplo, destacando um produto amazônico. A Amazônia Legal representa
aproximadamente 59% da extensão do território brasileiro, reúne 20% da água potável do mundo e 20 a 25% da
biodiversidade, além de ser responsável por cerca de 70% do PIB da América Latina. É um lugar muito importante, mas que muitas vezes é deixado em segundo plano. Por isso, quando eu vejo um produto da ‘Manioca’ ocupando um
espaço importante nas prateleiras de grandes centros, eu enxergo mais do que uma conquista de espaço comercial, eu vejo um espaço político e simbólico para a Amazônia. E nós precisamos ocupar cada vez mais espaços no Brasil e na vida das pessoas.”