Pesquisadora e doutoranda em Ecologia e Evolução
Rio de Janeiro, RJ
Projeto relacionado: Programa de Bolsas FUNBIO – Conservando o Futuro
Lançado em 2018, o ‘Programa Bolsas FUNBIO – Conservando o Futuro’ já́ beneficiou 134 bolsistas, entre
doutorandos e mestrandos, de todo o Brasil. Olhando mais de perto, dentro desse número total estão 109 doutorandos e 25 mestrandos, sendo 85 mulheres e 49 homens. A trajetória até aqui também revela que os projetos apoiados ganharam vida em 20 estados brasileiros, além do Distrito Federal – o que coincide com amplitude de apoiar pesquisas de campo relacionadas à conservação da biodiversidade.
O apoio acontece seguindo quatro eixos temáticos: conservação, manejo e uso sustentável de fauna e flora;
gestão territorial para a proteção da biodiversidade; mudanças climáticas e conservação da biodiversidade; e
recuperação de paisagens e áreas degradadas. Mestrandos selecionados recebem bolsas de até R$ 20 mil, enquanto
doutorandos recebem um apoio de até R$ 38 mil. Ao todo, a iniciativa destina até R$ 1 milhão para pesquisas de campo.
Apoiador desde a primeira edição, o humanize acredita no grande potencial transformador que a iniciativa alcança
a partir de novas gerações de profissionais engajados na conservação e uso sustentável da biodiversidade. Nessa
direção, Marianne Bello, do Rio de Janeiro, se sobressai como parte de uma geração que tem o que dizer, e ainda se
destaca como pessoa que busca entender o que pode fazer de diferente a fim de beneficiar o planeta.
Marianne é bacharela em Ciências Biológicas, com ênfase em Meio Ambiente, pela ‘Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)’ e Mestre em Ecologia e Evolução pelo Programa de Pós-graduação em Ecologia e Evolução da
‘UERJ’. Hoje ela é doutoranda em Ecologia e Evolução pelo mesmo programa. Há uns anos, quando ainda estava no
mestrado, a carioca foi selecionada para receber uma bolsa do ‘Programa de Bolsas FUNBIO – Conservando o Futuro’, e ela lembra com carinho do período.
O som e o silêncio da floresta
Parte da edição de 2019 do programa, Marianne conta que a motivação para tentar a bolsa veio de um de seus maiores objetivos de vida: contribuir para a conservação dos bugios da Ilha Grande (RJ). Essa história começou em 2014, quando ela ouviu os bugios [primatas que se comunicam por sons que remetem a roncos] pela primeira vez. Isso aconteceu quando Marianne cursava Ciências Biológicas na ‘Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)’ e foi escalada para a sua primeira disciplina de campo, que aconteceu em Ilha Grande. “Aquele som vindo da floresta despertou a minha curiosidade sobre a espécie. Até então eu nunca tinha ouvido nada parecido”, relembra a jovem, acrescentando que o interesse em desenvolver uma iniciação científica com o tema apareceu logo de cara. “Mas eu não consegui fazer isso durante a graduação e isso aconteceu em decorrência de diversos fatores, especialmente a falta de recursos financeiros para um trabalho de campo”, revela.
Já em 2018, em uma visita posterior aos surtos de febre amarela que assolaram regiões da Mata Atlântica a partir
de 2016, a carioca se assustou com o silêncio – ela não ouviu nenhum sinal dos sons produzidos pelos bugios.
Marianne, então, descobriu que muitos primatas morreram por conta de parte da população acreditar que eles poderiam contaminar as pessoas com a doença. Como resultado, a carioca resolveu estudar a espécie em sua pesquisa de mestrado, e a jornada começou antes do surgimento da oportunidade da bolsa. “O dinheiro que eu e minha orientadora usamos para a pesquisa acabou pouco antes de eu ver o anúncio da chamada do programa. Quando eu me inscrevi, as expectativas estavam resumidas em conseguir o financiamento necessário para viabilizar os meus trabalhos de campo. No entanto, ter sido selecionada expandiu os meus horizontes”, conta, acrescentando que sempre foi um diferencial o fato de a equipe do ‘FUNBIO’ acompanhar o desenvolvimento das pesquisas e se envolver no processo – o que, desde o início, fez com que ela enxergasse a iniciativa como uma oportunidade diferente. “Não vejo o programa somente como uma iniciativa de fomento a pesquisas, mas também como a criação de oportunidades e valorização da ciência nacional”, afirma.
As oportunidades entre as lacunas
Animada ao falar da bolsa, Marianne alega que a oportunidade mudou o rumo de sua vida e de sua formação.
“Um dos métodos utilizados na minha dissertação foi a entrevista com moradores (as) locais e, ao conversar com
essas pessoas, aprendi muito sobre diferentes formas de enxergar o mundo e de me relacionar com a natureza e
com as mais diversas realidades. Nessa direção, o programa possibilitou o acesso a lugares que, hoje, eu entendo que
refletem na minha formação e me transformaram em uma profissional mais atenta a questões socioambientais e a
valorização dos saberes”, compartilha, acrescentando que a experiência também impactou em questões pessoais.
Acreditando que o que separa as pessoas são as oportunidades que elas têm, Marianne celebra a conquista
da bolsa. “Agradeço ao ‘FUNBIO’ e ao ‘Instituto humanize’ por criarem uma oportunidade para que pessoas como eu
tenham seu espaço na ciência”, celebra, complementando que, com os últimos anos repletos de ataques à ciência e
fake news, o meio ambiente é um dos principais afetados e precisa de auxílio. “Iniciativas como o programa têm um
papel fundamental para o entendimento da importância da pesquisa e para a valorização da ciência, além de
impactarem na promoção de caminhos mais sustentáveis e no fortalecimento de ações de conservação”, conclui.