Instituto humanize

Ondas que levam para longe

Ademilson Zamboni

Diretor-geral da Oceana Brasil
Brasília, DF

Projeto relacionado: Modernização da política pesqueira nacional e redução da poluição por plásticos como
instrumentos para proteção dos ecossistemas marinhos

Paixão, vocação, talento, necessidade, tradição familiar. Sãoinúmeras as motivações para a escolha de uma profissão,
porém, no caso de Ademilson Zamboni, esse movimento aconteceu quase que por acaso, mas com uma finalidade
muito bem definida.

Ainda adolescente, enquanto folheava uma revista religiosa na pequena Lavínia, cidade localizada no interior
de São Paulo e próxima da divisa com o Estado de Mato Grosso do Sul, Zamboni encontrou um artigo sobre um
curso de ‘Oceanografia’. A descrição parecia interessante, mas foi com uma régua sobre um mapa que ele traçou
definitivamente seu futuro: o Oceano Atlântico estava a 800km de Lavínia, ou seja, chegar até ele seria chegar
distante o suficiente de sua pequena cidade. “Eu sempre me interessei por água e ciência”, lembra Zamboni, “mas vi o mar pela primeira vez quando fui estudar sobre oceanos na ‘Universidade Federal do Rio Grande (FURG)’, no litoral Sul do país”, finaliza.

Durante sua carreira acadêmica, Zamboni passou a se interessar também por política. Trabalhou como professor
universitário e pesquisador na área de poluição marinha e depois ingressou no Ministério do Meio Ambiente, onde
pôde experienciar o panorama de criação legislativa. Nesse período, percebeu que faria mais sentido estar onde as
políticas públicas fossem implementadas; onde pudesse perceber os efeitos da presença ou ausência do estado na
vida das pessoas e ainda pensar mais soluções a partir disso. Zamboni ingressou no Terceiro Setor em 2008 e, 10 anos depois, se tornou diretor-geral da ‘Oceana Brasil’, organização voltada para a proteção e restauração dos oceanos.

Legislação e conhecimento sobre a pesca artesanal

Com o apoio do humanize e outros cofinanciadores, a ‘Oceana’ defende a criação de uma nova lei pesqueira que
leve em consideração as demandas de pescadores (as) artesanais, dificilmente contemplados (as) pela legislação
atual brasileira. Para isso, a organização promoveu, nos últimos anos, diálogos com comunidades pesqueiras
de diferentes territórios e pelos quatro cantos do país, para entender as principais demandas e desafios dessas
populações. A experiência da ‘Oceana’ confirmou não apenas que a pesca artesanal é particular em cada
localidade, mas que essas pessoas, dependentes diretas da cadeia da pesca, no geral não possuem poder de influência
sobre políticas públicas.

“O objetivo é que nós tenhamos todas as ferramentas de comando e controle à disposição. Além disso, o que nos
mobilizou a trabalhar com a lei da pesca foi a necessidade de criar um arcabouço de governança que inclua a
obrigatoriedade de ter os espaços constituídos por lei e que considere todos os bens de participação da sociedade,
inclusive e principalmente de pescadores (as) artesanais”, explica Zamboni.

Outro ponto relevante é que a informação disponível sobre o pescado artesanal no Brasil é defasada. Um dos principais pontos da parceria entre ‘Oceana’ e humanize nessa iniciativa é o de promover a produção de mais conhecimento sobre a prática artesanal. “O pouco conhecimento sobre a pesca gera outros problemas colaterais. Por exemplo: como provar a perda na produção de um (a) pescador (a) artesanal no caso do derramamento de óleo se não há nenhum monitoramento pesqueiro há mais de 12 anos no Brasil?”.

O propósito de agir

No Rio Grande do Sul, por exemplo, a ‘Oceana’ colaborou para que pescadores (as) utilizassem as suas próprias
vozes com o intuito de promover mudanças. Com reuniões presenciais em Brasília, em instituições como o Supremo
Tribunal Federal (STF), diálogos aconteceram para a diminuição da pesca de arrasto no estado. Esse movimento
tem permitido uma maior valorização do pescado artesanal na região, proporcionando também o aumento de renda e a conservação de algumas espécies importantes.

E assim, Zamboni segue seu caminho que parece sempre o levar longe.

 

Vivenciar uma experiência como essa é mais do que uma sorte, é você saber que o seu trabalho valeu a pena. Eu descobri que o meu propósito é colocar as coisas em pé. Na minha história, todas as vezes que eu me proponho a fazer alguma coisa, isso passa por construir algo que vai ficar como uma herança sólida e que alguém vai tocar adiante. Esse é meu propósito: colocar uma organização de pé se for preciso, ou um projeto de grandes dimensões, ou uma equipe ou uma lei