Instituto humanize

Viver aberto ao desconhecido

Alexandre Fernandes Filho

Fundador do MOTI New Planetary Narratives
Munique, Alemanha

Projeto relacionado: MOTI

Alexandre é natural de Recife (PE), mas mora ‘no mundo’. Seja pelo Conselho de Administração do ‘Museum of Tomorrow International (MOTI) – New Planetary Narratives’, ou por sua atuação na área de estratégia da ‘Fundação BMW’, ele realiza projetos em Amsterdã, Alemanha, Barcelona e Rio de Janeiro.

O ‘MOTI’ foi lançado a partir do ‘Museu do Amanhã’, localizado no Rio de Janeiro, a fim de desenvolver projetos
culturais internacionais, e está ancorado nos valores éticos do museu, de regeneração e convivência. É com este olhar
que o ‘MOTI’ busca engajar museus de ciências de todo o mundo a fim de promover um novo letramento de futuros. Um letramento que não é responsável apenas por desenvolver o senso de esperança e pertencimento, mas que permite que as pessoas apreciem a complexidade da vida e que sejam capazes de responder às mudanças com curiosidade e responsabilidade.

Imaginando futuros possíveis

Olhando para a forma com que o ‘MOTI’ se conecta com o seu propósito pessoal e profissional, Alexandre celebra
o quanto o trabalho da iniciativa contribui para pensar no futuro e desenvolver um senso de esperança. “Nosso mundo está mudando mais rápido do que nunca e o futuro parece estar em todo lugar. A todo momento somos bombardeados com as últimas tendências, prometendo revolucionar o mundo. Basta refletir um pouco sobre os rápidos avanços tecnológicos vividos nos últimos anos ou tentar entender as difusas mudanças políticas, ambientais, econômicas e sociais que estão transformando nossa realidade hoje”, reflete, acrescentando que esses movimentos são impossíveis de prever e que o estado contínuo de mudança coloca as pessoas em situações de grande incerteza. “Mas há um detalhe curioso nisso tudo, que é o fato de que muita gente acredita que o oposto da incerteza é a certeza, enquanto, na verdade, é estar aberto ao desconhecido”, opina.

Para alcançar futuros mais sustentáveis e com mais possibilidades para o planeta, é preciso contribuir para
solucionar os grandes desafios do nosso tempo. É por isso que o ‘MOTI’ tem projetos como o ‘Futures-Oriented Museum Synergies (FORMS)’, que compreende uma rede global de museus de ciências do futuro e centros culturais. “Esses museus educam a sociedade sobre os principais desafios do nosso tempo, passando por erradicação da pobreza a mudanças climáticas”, explica, acrescentando que estes equipamentos culturais também promovem habilidades e valores necessários para que sociedade esteja preparada para enfrentar diferentes desafios. “Além de coordenar poderosas plataformas de conscientização, o ‘FORMS’ tem uma agenda comum que promove o pensamento crítico, a imaginação de futuros possíveis, o senso de colaboração, o pensamento sistêmico e a neurorresiliencia”, afirma Alexandre.

O papel na contemporaneidade e as três capacidades para futuros

Apoiado pelo humanize em seu primeiro ciclo, o ‘FORMS’ chegou ao fim de 2021 com a expectativa de realizar dois
encontros presenciais do grupo em 2022, um em Barcelona e outro em Berlim, com uma programação de sete dias de atividades definida a partir da curadoria, da programação e da facilitação coordenadas pelo ‘MOTI’. Para marcar o
reencontro presencial do grupo, o que não acontecia desde que a pandemia de Covid-19 teve início, a programação
mista foi ganhando forma olhando para atividades culturais e workshops de trabalho, tendo como foco principal retomar as relações entre os seus integrantes e discutir o papel do grupo na contemporaneidade.

Quando reflete sobre a criação e o percurso do ‘FORMS’, Alexandre conta que a rede tem ganhado cada vez mais relevância dentro e fora do ‘MOTI’. “Depois de três anos desde a sua criação, o ‘FORMS’ já se mostra como a principal rede/aliança de museus do futuro no mundo”, comemora, complementando que o trabalho dos últimos anos está gerando frutos que se mostram inspiradores para todo o ecossistema e que apontam para caminhos de transformação. “Por meio de um trabalho em rede e de cocriação, conseguimos realizar, em Berlim, um festival de Futures Literacy no ‘Futurium’ – que é uma espécie de primo do ‘Museu do Amanhã’ [o Museu ‘Futurium’, de Berlim, é uma iniciativa público-privada do governo alemão que, à exemplo do ‘Museu do Amanhã’, reúne instituições científicas e do mundo da cultura para discutir o futuro a partir da sustentabilidade do planeta e da convivência entre os povos]. Na ocasião, atraímos 3.500 pessoas e apresentamos, por meio do trabalho do fotógrafo Sebastião Salgado, as principais oportunidades, desafios e futuros possíveis considerando a maior floresta tropical do planeta: a Amazônia”, celebra.

A relação com a rede e as experiências até aqui revelaram desafios e aprendizados a partir da atuação, tanto do ‘FORMS’ quanto do ‘MOTI’. Sobre isso, Alexandre revela que, ao longo de cinco anos de muito trabalho, o ‘MOTI’ adquiriu três grandes capacidades – que o deixam empolgado para o trabalho dos próximos anos. “A primeira delas é que somos capazes de proporcionar e facilitar experiências transformadoras em centros culturais e na natureza, como forma de construir comunidades de propósito e de criar uma base sólida para trabalho em rede. A segunda está na visão de que somos especialistas em formar profissionais em Futures Literacy [Letramento em Futuros]”, afirma, acrescentando que isso quer dizer que o ‘MOTI’ tem a competência necessária para empoderar pessoas para construção de futuros desejáveis. Por fim, Alexandre destaca uma consciência que surgiu a partir da colaboração
e que antecipa a forma como o ‘MOTI’ vai atuar nos próximos anos. “A terceira capacidade se revela no fato de que somos especialistas em trabalho em rede, e que podemos desenvolver mecanismos para cocriação e pertencimento”, finaliza.

 

Nosso mundo está mudando mais rápido do que nunca e o futuro parece estar em todo lugar. A todo momento somos bombardeados com as últimas tendências, prometendo revolucionar o mundo. Basta refletir um pouco sobre os rápidos avanços tecnológicos, vividos nos últimos anos, ou tentar entender as difusas mudanças – políticas, ambientais, econômicas e sociais – que estão transformando nossa realidade hoje. Esses movimentos são impossíveis de prever e, por isso, há um estado contínuo de mudança que nos coloca em situações de grande incerteza. Mas há um detalhe curioso sobre isso: muita gente acredita que o oposto da incerteza é a certeza, enquanto, na verdade, (o oposto da incerteza) é estar aberto ao desconhecido